É de autoria do escritor e jornalista
de Santarém (PA), o Nicodemos Sena, o livro, “Choro por ti, Belterra!”. A obra
autoral será lançada nesta quarta-feira (26), às 20 horas. O local, a sede do
Instituto Cultural Boanerges Sena, na Travessa 15 de agosto, 1248, entre as
Avenidas Borges Leal e Marabá, no bairro Santa Clara.
Sobre a obra:
Título:
“CHORO POR TI, BELTERRA !”
Autor:
Nicodemos Sena
Editora:
LETRASELVAGEM (São Paulo)
ISBN
978-85-61123-23-9
Tamanho: 14
x 21 cm. (Brochura)
1ª
edição
200
páginas
A
OBRA
Em
19 episódios, Nicodemos Sena reconstitui o dia em que fez a viagem de retorno
às origens, em companhia de seu pai, depois de um percurso de algumas horas
pela rodovia Santarém-Cuiabá, até entrar numa estradinha de terra que leva à
Estrada Um e, enfim, às ruínas da cidadezinha de Belterra, que na década de
1940 fora dirigida pela Ford Motor Company, empresa do
magnata norte-americano Henry Ford (1863-1947), que, em plena Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), tentaria fazer da extração da borracha uma atividade
lucrativa, fornecendo os pneumáticos necessários para movimentar os veículos
militares.
Não se pode dizer que se trata de um romance nem tampouco de um
conto que se tenha derramado por causa de uma prosa poética. Não é também uma
simples reportagem, pois não constitui a mera literalização dos acontecimentos
de um dia na estrada. Neste caso, cada encontro no caminho com esporádicos
moradores perdidos naquelas paragens do Brasil profundo serve como motivo para
um ou mais comentários, como aquele episódio em que o cronista se depara, em
meio ao tórrido calor do meio-dia amazônico, dentro de um casebre em que não
havia água encanada e muito menos tratada, com uma menina que não parava de
manipular a tela de um telefone celular.
É, isso sim, um texto híbrido que se assume como uma crônica
repassada de lirismo, uma narração das vicissitudes vividas pelo narrador em
companhia do pai, que faz, com a ajuda do filho, uma viagem de retorno à
infância para reencontrar todos os fantasmas que ainda assolam seus pensamentos.
Ou ainda uma narrativa poética que, ao reunir musicalidade e
metaforização, faz com que o narrador desfie o novelo da memória, em tom de
conversa com o leitor em que não dispensa nem mesmo citações de autores, como o
português Fernando Pessoa (1888-1935), o colombiano Gabriel García Márquez
(1927-2014), o mexicano Juan Rulfo (1917-1986) e o norte-americano William
Faulkner (1897-1962). Como se sabe, o que une esses autores de nacionalidades
tão distintas é a construção metafórica de um lugar mítico, que existe só na
alma do próprio autor, como “o rio da minha aldeia” do heterônimo pessoano
Alberto Caeiro.
Em
resumo, o texto dialoga com o mito do eterno retorno, ao praticar a
intertextualidade com discursos canônicos, reconstruindo, dessa forma, metáforas
da precária condição humana.
Autor de livros que já se tornaram referências obrigatórias dentro
da Literatura Brasileira, como os romances A
Espera do Nunca Mais (1999), A Noite
é dos Pássaros (2003) e A Mulher, o Homem
e o Cão (2009), trilogia que constitui uma saga amazônica, Nicodemos Sena
mostra em Choro por ti, Belterra!que
pode ser também considerado um cronista da estirpe de Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987), Rubem Braga (1913-1990) ou Fernando Sabino (1923-2004).
A diferença é que, em vez da fugacidade dos registros do cotidiano
das ruas do Rio de Janeiro que se leem nas crônicas daqueles grandes mestres, o
que o leitor descobrirá nestes episódios é não só a Amazônia que é vista ainda
como exuberante paraíso tropical, mas também aquela que governantes corruptos
permitiram que continuasse a ser destruída, tomada por aventureiros
“gananciosos e cruéis, os quais, sem escrúpulos, saqueiam e depredam os bens da
terra, auxiliados por ‘mucamas’ e ‘mordomos’ (degenerados filhos da terra) que,
a troco de migalhas e posições, passaram-se para o lado dos inimigos”. (Texto
das orelhas do livro, de autoria de Adelto Gonçalves, escritor, jornalista,
doutor em Literatura Portuguesa pela USP-Universidade de São Paulo)
O
AUTOR
Nicodemos
(Neves) Sena nasceu no município de Santarém, em 08.07.1958, e passou a
infância entre índios e caboclos do Rio Maró, região de fronteira entre os
estados do Pará e Amazonas (Amazônia brasileira), experiência que marcaria para
sempre a sensibilidade do escritor identificado com a terra e os povos da
Amazônia.
Em
1977, vem para São Paulo e aí se forma em jornalismo, pela Pontifícia
Universidade Católica (PUC), e em direito, pela Universidade de São Paulo
(USP).
Repórter
e redator em órgãos da imprensa de São Paulo, retorna ao Pará, em 2000,
assumindo o posto de diretor de redação de “A Província do Pará”.
Faz
a sua estreia literária em 1999, com o romance A Espera do Nunca Mais, uma saga amazônica de 876 páginas.
No
Pará, proclamou o historiador, folclorista e crítico Vicente Salles:
“Com
A Espera do Nunca Mais, pela primeira
vez temos, na ficção, o caboclo como agente da história, o índio que se
destribalizou, que vive entre dois universos que se opõem e se excluem.” (“O caboclo como agente da história”. A
PROVÍNCIA DO PARÁ, Belém, PA, 15 mar. 2000)
No Rio de Janeiro, escreveu a poeta e crítica Olga
Savary:
“É uma alegria quando nos deparamos com um livro
como A Espera do Nunca Mais, esta extraordinária saga amazônica, narrada
com sedução, seriedade, poesia. Forma e estilo são impecáveis nessa estreia,
que nem estreia parece, de tão madura. Uma lição de literatura e de
brasilidade.” (“Amazonense faz boa ficção com ‘anos de chumbo’ e choques entre
culturas”. O GLOBO, Caderno Prosa & Verso, Rio de
Janeiro, RJ, 3 mar.2001)
Em
São Paulo, escreveu o jornalista, professor e crítico Oscar D’Ambrosio:
“A Espera do Nunca Mais
desafia e devora o leitor desde o início. Feito sucuriju, abre sua bocarra e obriga a penetrar num universo denso.
Não adianta resistir. Uma vez dentro da boca deste livro-serpente, o destino é
conhecer os seus interstícios plenos de um fazer artístico solidamente urdido,
elaborado com mãos de mestre.” (“Uma extensa e densa aula de Amazônia”. JORNAL DA TARDE, Caderno de Sábado, São
Paulo, SP, 20 maio 2000)
Em
2000, A Espera do Nunca Mais conquista o Prêmio Lima Barreto/Brasil 500
Anos, da União Brasileira de Escritores (UBE/Rio de Janeiro), ocasião em que
conhece pessoalmente o escritor e crítico Antonio Olinto, da Academia
Brasileira de Letras, que sobre A Espera
do Nunca Mais escreveu:
“Eis
um romance que invade a literatura brasileira com a força de um fenômeno da
natureza. Trata-se de uma saga amazônica chamada A Espera do Nunca Mais.
Seu autor, Nicodemos Sena, tem o domínio da narrativa de ação e o talento de
criar gente. Seus personagens representam a Amazônia com sua largueza e sua
mistura, caboclo e floresta unidos num ecossistema geográfico-humano que
retrata a nossa mais desconhecidamente forte região em que o Brasil se firma e
se revela. É romance que deve ser lido. Nele, realidade e lenda se juntam com
naturalidade. As palavras formam um estilo ínsito à grandeza das paisagens que
descreve.” (JORNAL DE LETRAS, Rio de
Janeiro, RJ, jan. 2001)
Em 2002, Nicodemos
Sena aparece no Dossier Amazónico
publicado na revista literária portuguesa “Construções Portuárias” (nº01), no
qual foi incluído um trecho do inédito A Noite é dos Pássaros, ao lado
de importantes escritores da Amazônia, entre os quais Haroldo Maranhão, Max
Martins, João de Jesus Paes Loureiro, Vicente Franz Cecim, Age de Carvalho,
Jorge Henrique Bastos, Antônio Moura, Paulo Plínio Abreu, Benedicto Monteiro,
Rosângela Darwich e Benedito Nunes.
De 3 de abril a 31 de
julho de 2003, A Noite é dos Pássaros é publicado em forma de folhetim, em dezoito episódios semanais,
no jornal “O Estado do Tapajós” (Santarém do Pará) e na revista eletrônica
portuguesa “TriploV”. Ainda em 2003,A Noite é dos Pássarosé publicado em
formato livro (Ed. Cejup). No mesmo ano, fragmento de A Noite é dos Pássaros
é publicado nas revistas “Palavra em Mutaçãonº02” e “Storm-Magazine”, ambas de
Portugal.
Ainda em 2003, A Noite
é dos Pássaros conquista o prêmio Lúcio Cardoso, da Academia Mineira de
Letras, e, em 2004, Menção Honrosa no prêmio José Lins do Rego, da União
Brasileira de Escritores (UBE/Rio de Janeiro).
Nicodemos Sena é nome
reconhecido dentro e fora da Amazônia, tornando-se verbete na “Enciclopédia de
Literatura Brasileira”, direção de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa
(edição conjunta da Global Editora, Fundação Biblioteca Nacional, DNL, Academia
Brasileira de Letras, 2ª edição, 2001). Carlos Nejar, da Academia Brasileira de
Letras, incluiu Nicodemos Sena em sua História
da Literatura Brasileira — da Carta
de Caminha aos Contemporâneos, entre os “grandes nomes na ficção surgidos
no Brasil após a década de 1970” (Cap. 35, pág. 900, Fundação Biblioteca
Nacional, RJ).
Nicodemos Sena é um
dos 81 escritores analisados pela professora Nelly Novaes Coelho, titular de
Literatura da Universidade de São Paulo (USP), no livro Escritores brasileiros do século XX — um testamento crítico (LetraSelvagem, SP, 2013).
Pelo estilo vigoroso
e temática inspirada na vida das populações marginalizadas da Amazônia
(indígenas e caboclos), Nicodemos Sena já foi comparado a grandes ficcionistas
brasileiros, como Graciliano Ramos, João Ubaldo Ribeiro, Mário de Andrade e
Érico Veríssimo, e a importantes ficcionistas latino-americanos, como o
paraguaio Augusto Roa Bastos e o peruano José MaríaArguedas.
O terceiro romance de
Nicodemos Sena, A Mulher, o Homem e o Cão
(2009), foi incluído entre as “78 DICAS” do Guia da FOLHA, suplemento cultural
do jornal “Folha de São Paulo” (29.05.2009).
Tendo nascido na
Amazônia, região “periférica” em relação aos centros nervosos do capitalismo
globalizado (Estados Unidos da América, Europa e, em termos de Brasil, o
Sul-Sudeste do país), conviveu desde cedo com as injustiças praticadas pelas
oligarquias locais contra indígenas e caboclos, do que resultou um sentimento
de revolta, inicialmente vago e finalmente insuportável, que o compeliu a
lançar-se contra os “homens injustos” e o Deus que parecia não se compadecer do
sofrimento dos pobres.
Na cosmopolita e
conflagrada São Paulo, em seu primeiro emprego na indústria têxtil no bairro do
Ipiranga, conheceu gente desenraizada e “fora do lugar” como ele, fugitiva da
seca do Nordeste ou da polícia, mas disposta a trabalhar e perseguir os seus ideais.
No cortiço onde se recolhia após o trabalho diário e a escola noturna, conheceu
“seres da noite” semelhantes aos que, mais tarde, povoariam os seus romances.
Seres que se movem nas sombras (na selva amazônica ou na “selva” de asfalto) e
não deixam rastro; variada e difusa fauna humana de mamelucos, cafuzos e
brancos pobres, que, premidos pela necessidade e circunstâncias, veem-se
convertidos em ladrões, prostitutas e, entre estes, um ou outro operário que
não desiste de sonhar com o “futuro”.
Com tal bagagem
existencial, filosófica e humana, extraída da Vida, e mais a vontade indomável
de se elevar por meio do conhecimento e dos livros, Nicodemos Sena logrou
entrar, em 1979, para o curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, onde, municiado pela literatura marxista-leninista, engaja-se no
movimento estudantil e dos trabalhadores contra a miséria e a opressão impostas
pelo grande capital em sua forma mais atroz (a ditadura militar implantada em
1964).
Em 1981/1982,
participa da campanha de criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1993, ao
resolver levar a sério sua vocação de escritor, desliga-se do PT e passa a
defender uma literatura “universal, sim, compreensível a todos os homens do
mundo, mas que não renegue as marcas da cultura brasileira”, como afirmou numa
entrevista.
Como diretor da União
Brasileira de Escritores (UBE/SP) participa, em 2011, da organização do
Congresso Brasileiro de Escritores realizado em Ribeirão Preto (SP).
Texto e Capa: Editora: LETRASELVAGEM (São Paulo).
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